Resenha: Morada das Lembranças, de Daniella Bauer

Até pouco tempo, eu nunca havia participado de um book tour. Mas o primeiro book tour a gente nunca esquece, e este teve tudo para ser, realmente, inesquecível: muito bem organizado e com um livro maravilhoso para ser lido e resenhado por quinze mãos da blogosfera.


A história de “Morada das Lembranças” é contada em primeira pessoa, misturando tons de reflexão, recordação e confissão. A nossa protagonista é uma menina que, aos sete anos de idade, após o assassinato do pai, precisa sair da Rússia revolucionária às pressas, acompanhada da mãe e do irmão bebê. Uma experiência sem dúvida traumática.
O destino do trio é o Rio de Janeiro, onde mora a avó da protagonista, uma senhora severa que está amigada com um militar brasileiro e leva uma vida confortável nas nossas terras tropicais. Mas toda a travessia da família não será nada fácil, e a chegada no solo brasileiro também não trará muito alívio.
A escrita é fluida e rápida, sem se tornar piegas nem ser superficial. Um momento de doença é narrado com especial pungência, e mesmo o leitor mais carrancudo ficará com o coração apertado e lágrimas nos olhos. É um livro que parece que vai levar apenas algumas horas para ler, mas que nos surpreende e nos faz parar vez ou outra para refletir com a protagonista. Assim, “Morada das Lembranças” se torna um livro rápido, mas profundo; triste, mas humano; realista, mas educativo.



Tendo estudado história na faculdade, considerei algumas passagens cansativas pelo excesso de explicações do contexto da Revolução Russa, mas não tenho dúvidas de que o leitor leigo precisa destas rápidas informações para compreender melhor a trama. E deixo aqui um único senão: a falta de crases quando elas eram absurdamente necessárias!
É impressionante saber que “Morada das Lembranças” foi o romance de estreia de Daniella Bauer. Sua escrita é de profissional experiente e segura de si, e consegue a proeza de manter a narrativa em pé de igualdade com o visual deslumbrante do livro. Entre as páginas e parágrafos temos imitações de tecidos multicoloridos, com estampas que mudam a cada capítulo. É algo que eu nunca havia visto antes em um livro nacional. A combinação perfeita de texto e imagem rendeu ao livro, merecidamente, o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional de 2014.


Escolher uma frase favorita foi difícil. Meu ímpeto foi de copiar passagens e páginas inteiras (não fiz isso, claro), tamanho o impacto que aquelas palavras tiveram em mim. Lembrando em vários momentos “Doutor Jivago” (um dos meus favoritos), mas com o olhar de uma criança, “Morada das Lembranças” traz no título um conselho para ser seguido à risca: guarda na sua morada das lembranças este livro fantástico.

Frase favorita:

E contaria a minha história, pois a escrita retém aquilo que escapa pelas frestas da vida.” (pg 19)

O veredicto: 5 MINIONS!




EXCELENTE!

Saiba mais sobre "Morada das Lembranças" no site da Editora Biruta!

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